quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Meu barco...

Quando achei que meu barco havia encontrado o porto... ele se perdeu.

Eu jamais entendi porque o vento consegue ser mais forte do que meus braços, todas as vezes.

É como se meu corpo não reagisse mediante rajadas de vento nem sempre intensas.

Meu barco à deriva flutua, dia a dia, enfrentando toda tempestade - uma por uma - de cada vez.

No cansaço, por vezes afundo.

Não demoro, e a água que tentou me matar é a mesma que me faz ressurgir. A viagem é tranquila para alguns, e tão tumultuada para outros como eu.
O vento além de balançar a estrutura do meu barco, me traz lembranças... imagens de um sorriso que já tentei esquecer, e quando fecho os olhos... incrivelmente me aproximo mais ainda! se não bastasse o anoitecer traz aquele cheiro que já havia esquecido... e quando a lua sobe é como se meu barco começasse a se estabilizar. A viagem até parece tranquila... até as náuseas trazerem tudo à tona... eu perco o comando, perco a visão, o senso de direção, e o controle das pernas... pernas que tremem, quebram e não mais conseguem se firmar.

Velho barcos, velhos sonhos... meus olhos não sorriem, meus lábios secaram... a água salgada não hidrata.. ela corta, deixa em carne viva que é pra eu não esquecer que sinto dor.
Certa vez ouvi dizer que os bons ventos sempre estão à favor dos melhores navegadores... confesso, não é verdade.

De nada adianta ser bom navegador quando o vento se volta contra você... e sem dúvida é o que ele mais irá fazer... tal qual a nossa vida. E falando em vida...

Viajando um dia desses eu prestei atenção da fragilidade dessa cápsula chamada vida...
Você já percebeu que uma palavra dita sem querer é o suficiente para abalar uma estrutura? Um olhar carregado de desejo e saudade basta para que suas certezas se percam, e você não mais possua certeza de qualquer fato que diga respeito ao seu senso de direção, ou à sua noção de tempo/espaço/perigo.

O dia em que meu barco afundar, e não mais retornar à superfície, peço que não me considerem por morta, eu faço parte desse mar profundo, que por mais cruel que tenha sido comigo, muito me ensinou.

Me senti asfixiada muitas vezes, mas não por faltar o ar... e sim por faltar o amor.

Talvez seja esse o destino dos pobres loucos e dos apaixonados.



"... Rima de ventos e velas, vida que vem e que vai...
a solidão que fica e entra, me arremessado contra o cais..."

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